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Meritocracia: uma fábula delirante

Por Marcelo Pereira

Muito se fala ultimamente em Meritocracia. Os direitistas e capitalistas mais exaltados adoram falar sobre ela. Não vamos ficar aqui destrinchando sobre o que é Meritocracia porque não vale a pena. É um delírio de quem arrumou um jeito de dizer que as injustiças do mundo são "justas". Puro delírio.

Vamos trocar em miúdos: imagine que todos os ricos, mesmo os mais ricos, ricaços, sejam na verdade "pobretões que deram certo". Eles simplesmente trabalhavam normalmente em seu cotidiano, acordado cedo, enfrentando deslocamento difícil de casa para o trabalho, cumprindo horários e tarefas e foram crescendo gradativamente, souberam aplicar o salário que ganhavam e acabaram enriquecendo. Mágico, não?

Mesmo que isso não seja impossível, as chances disso acontecer são imensamente reduzidas. Nem chega a 1% a sua possibilidade. Nossos sistema capitalista-neoliberal cria todas as condições para dificultar a subida profissional alegada como possível pelos meritocratas. É um funil muito apertado por onde não passa qualquer um.

No Capitalismo-neoliberal, você enriquece por meio de herança, renda ou... roubando! É quase impossível enriquecer muito honestamente. Com honestidade, dá para ser classe média alta(como boa parte das celebridades brasileiras, por exemplo) ou um pouco rico. Mas ricaço, a ponto de ter na conta pessoal a quantidade do PIB de um país, honestamente, não.

O conceito de Meritocracia

A Meritocracia é na verdade, uma desculpa mais que esfarrapada para dizer que o sistema capitalista do tipo neoliberal é justo e que os ricos são ricos por merecimento (daí o nome). Que todo rico é um pobre que batalhou muito para enriquecer e por ter batalhado, merece ter o que tem. Mas isso soa muito a famosa frase "os fins justificam os meios", pois quem defende a Meritocracia ignora os bastidores do processo que fez o rico chegar aonde chegou.

A subida na vida profissional é complexa e cheia de obstáculos. Um dos piores obstáculos são as próprias pessoas que encontramos no cotidiano. Normalmente arrivistas - que querem subir a qualquer custo - sempre estão no meio do caminho e quase sempre quem é arrivista é que acaba "chegando lá" abrindo mão de ética e moral para obter as vantagens que farão "chegar lá" de qualquer jeito, esticando a perna para não raramente fazer os verdadeiros competentes desabarem no chão.

Quem defende a Meritocracia ignora o lado ruim da trajetória dos "vencedores". Se esquece que na vida real não existe maniqueísmo e que muitos dos profissionais que parecem símbolos de honestidade e luta, fizeram das suas para facilitar o caminho de subida. Não adianta ler auto-biografias ou biografias escritas por bajuladores: ninguém gosta de assumir desonestidade, pois sabe que pode se dar mal com isso. Bêbados, loucos e ladrões costumam nunca assumir que são.

A Meritocracia é uma bobagem. Não se baseiem nela para construir seus projetos de vida. Claro que vamos subir na carreira profissional, mas não a ponto de termos um PIB inteiro em nossas contas bancárias. É salutar crescer profissionalmente respeitando certos limites. 

O ideal é ganhar o dinheiro necessário aos nossos custos pessoais, o que pagaria o que fazemos no cotidiano, sem prejudicar qualquer pessoa. O dinheiro usado para ganhar poder político é supérfluo, não é bom e pode dar mais dor de cabeça do que satisfação.

Esqueçam a Meritocracia. Os fins quase sempre nunca justificam os meios. Aquele "vencedor" que você tanto admira pode ser mais desonesto que um ladrão. O exemplo dele pode ser na verdade um caminho para a perdição. O melhor exemplo de subida na vida sempre somos nós mesmos. E é em nossas qualidades que devemos confiar e nos espelhar.

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