Por Marcelo Pereira
Não adianta o empresariado brasileiro escrever cartilhas estimulando a responsabilidade social se os empresários não fazem a parte deles. Pior: acham que deveria ser o oposto.
Não adianta o empresariado brasileiro escrever cartilhas estimulando a responsabilidade social se os empresários não fazem a parte deles. Pior: acham que deveria ser o oposto.
Especialistas em História Política e História Econômica sempre falaram da índole escravocrata do empresariado brasileiro. Apesar de sonharem com gestões em que pudessem ter seus lacaios trabalhando de graça, muitos empresários brasileiros não assumem publicamente isso por conhecerem a má imagem da escravidão no senso comum. Há um medo secreto em ser preso por apoiar e praticar o trabalho escravo, considerado crime por lei.
Mas um deles deixou vazar esta tendência tradicional dos donos do poder econômico em desejar a volta da escravidão no país, que pasmem, está sendo estudada pelo governo Temer (sem o nome de "escravidão", que se tornou pejorativo), na tentativa de diminuir os custos para as elites, preservando o altíssimo padrão de vida, irreal e injusto para um país em desenvolvimento como o Brasil.
O péssimo exemplo do caso Riachuelo
O nome deste empresário é Flávio Rocha, dona da rede de lojas de roupas Riachuelo, que num ato de hipocrisia (na tentativa de soar moderna e informal), agora assume seu nome como RCHLO, numa referência ao internetês. Bonitinho, não?
Flávio Rocha tem tido a coragem de assumir, mesmo discretamente, sua postura escravocrata. Ele, junto com os parentes que gerenciam o negócio, responde a processos trabalhistas e várias vezes foi acusado de práticas escravagistas. Um caso é relatado aqui. Deu uma declaração que deixou sub-entendido o fato de querer a volta da escravidão e anda chamou os governos petistas de "governos Robin Hood", revelando o verdadeiro motivo porque as elites reprovaram os governos de Dilma. Flávio pode ser mau caráter, mas pelo menos não é hipócrita.
Mas o comportamento dele se assemelha aos administradores de séculos mais atrasados. Rocha pensa e age como senhor de engenho. Ele é o único que "assumiu" a postura, mas não o único a por em prática. Empresas e mais empresas são acusadas de práticas escravagistas. A Mc Donalds acumula toneladas de processos trabalhistas e os rostos tristes de seus funcionários não me deixam mentir. Até mal alimentados os funcionários são.
Práticas escravagistas vão contra a Administração moderna, que defende que funcionários felizes trabalham melhor. Rocha é um péssimo exemplo de administrador. Nem para o interesse dele, ele pensa em agradar os seus sub-alternos. Cada vez mais a Teoria Administrativa defende a humanidade no mercado de trabalho, e muitas ações tem sido feitas para que haja vários progressos em relação a isso.
Funcionários são o bem mais valioso de qualquer organização
Pessoas não são maquinas e descobriu-se recentemente que o mais "reles" dos funcionários pode contribuir, inclusive intelectualmente, para o desenvolvimento da gestão. Afinal, se os gestores acham ótimo que os funcionários tenham sinergia, porque os patrões não entram nesta sinergia também?
Vai chegar o tempo - e como administrador que sou, acredito não estar muito longe - em que patrões e funcionários irão se unir, agindo com reciprocidade para o desenvolvimento das organizações. Todos tem a ganhar com isso e as empresas que aderirem a esta ideia serão as que liderarão no mercado.
Flávio Rocha e outros que pensam e agem como ele, vivem no seculo retrasado. Empresas como a dele, aos poucos, irão afundar e desaparecer. Ele se esqueceu que a maior riqueza de uma organização está no ser humano, frágil como cristal e precioso como ouro.
Tratar o ser humano da melhor forma possível, com condições de trabalho dignas, respeito e salário justo (não segundo a opinião pessoal do patrão e sim de acordo com a necessidade de quem recebe) é um dos mais importantes passos para uma empresa crescer. Pois cada vez mais sabemos que seres humanos devem se unir.
Funcionários são tão humanos quanto seus patrões. Tirando o terno e gravata e os uniformes, todos nós somos iguais. Humanos da mesma espécie.
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