Por Marcelo Pereira
Há algumas semanas eu estava estudando e tive que assistir a uma palestra dada por um executivo sobre o que ele definia como "responsabilidade social". Conhecendo a índole de empresários e executivos brasileiros ou instalados no Brasil, eu não esperava muita coisa a respeito. A palestra serviu para confirmar a minha crença no caráter não-humanitário do empresariado brasileiro, acrescido da mais nítida hipocrisia.
Há algumas semanas eu estava estudando e tive que assistir a uma palestra dada por um executivo sobre o que ele definia como "responsabilidade social". Conhecendo a índole de empresários e executivos brasileiros ou instalados no Brasil, eu não esperava muita coisa a respeito. A palestra serviu para confirmar a minha crença no caráter não-humanitário do empresariado brasileiro, acrescido da mais nítida hipocrisia.
Se já não bastasse o fato de que homens que reservam boa parte do gordo patrimônio para uso pessoal, na manutenção de faraônicos supérfluos, não seriam capazes de atos altruísticos realmente eficientes, quando cobrados pela sociedade para fazer alguma coisa em prol dos menos favorecidos, resolvem fazer de forma estereotipada, paliativa e precária, da mesma forma que já é feita por instituições religiosas, aquilo que elas chama de "caridade".
O que os executivos e empresários pensam a respeito da responsabilidade social obviamente passa bem longe da melhoria na distribuição de renda, a verdadeira origem de quase todos os problemas do país. Cortar o mal pela raiz prejudicaria o acúmulo de renda, bens e poder que fazem parte dos planos de quase todos os homens de negócios. Mas como lançar mão da responsabilidade social que melhora a imagem do empresariado, sem prejudicar seus interesses?
A resposta a essa pergunta foi encontrada na caridade paliativa consagrada pelas religiões e que serviu de modelo de "responsabilidade social" posta em prática por inúmeras ONGs de orientação conservadora. Ajudar sim, mas instalar a justiça social, nunca.
Modelo religioso de "responsabilidade social"
A "responsabilidade social" defendida pelo empresariado consiste, além do modelo religioso de caridade, da colocação de jovens pobres em atividades esportivas (sob o tosco argumento de "mantê-los ocupados" - provavelmente evitando o desenvolvimento de ideias que poderiam ser consideradas "subversivas") e de um certo paternalismo, quando uma pessoa carente se encontra sob a responsabilidade de um "tutor" que o ajuda, mas também direciona seu modo de pensar e de agir, sendo responsável pelo tal projeto de "responsabilidade social".
É um modelo de caridade que não elimina problemas, apenas elege indivíduos ou um grupo de pessoas para sair do problema, que continua a ameaçar a sociedade como um todo. Tira-se a pessoa de um problema como se a curasse de uma virose sem matar o vírus, que continua solto pela atmosfera.
Um detalhe a observar é que em todos os projetos "sociais", há o cuidado extremo, mas discreto de nunca educar jovens carentes para a liderança. A função destinada para eles está praticamente decidida: ou "artista" ou atleta. Sabem os executivos e empresários que lideranças vindas das classes humildes podem estragar seus planos de ganância. O subjetivo ódio anti-petista tem origem nesse pensamento. Líder bom, para eles é líder rico. Líder rico é bom porque mantém as coisas como estão em sua essência.
Há também aqueles que acham que "responsabilidade social" tem a ver com ecologia, se esquecendo que seres humanos faze parte do ambiente. De que adianta aumentar o número de árvores no mundo se há pessoas em condições sub-humanas pelo mundo? Vai ver que árvores servirão mais como abrigos de pessoas que não tem o direito de ter uma moradia. Abrigos que certamente deixarão de fazer sentido em dias de trovoada, já que árvores deixam de ser abrigos em momentos como esse.
Agente "transformador" que nunca transforma
Mas a prática mais observada no assistencialismo (este é o nome correto que deve ser dado à "responsabilidade social" paliativa defendida por conservadores) burguês é aquilo que se assemelha ao que é feito pelas instituições religiosas, somado a práticas da chamada "educação através do esporte" (algo irresponsável que é arraigado na sociedade como eficiente).
Sabe-se, embora nunca se admita, que a "educação através do esporte" nunca passou de fato de uma iniciativa para livrar a competitividade (presente na atividade esportiva) do estigma negativo de estimulador do egoísmo. A competitividade é ingrediente capitalista e para empresários é indispensável dissociá-la do egoísmo e do arrivismo, embora na prática isso seja inútil. Ver pessoas se estapeando diante de um bem escasso deixou de ser desagradável graças a competitividade esportiva.
Portanto nunca se deve esperar algo realmente transformador na noção de "responsabilidade social" vinda de homens acostumados a contribuir pelo aumento na concentração de renda e pela manutenção da sempre injusta divisão da sociedade em classes, perpetuando injustiças e problemas que estamos cansados de conhecer em nosso cotidiano.
Responsabilidade social é acima de tudo lutar por uma sociedade economicamente equilibrada, com ricos menos ricos e pobres menos pobres. Quem se habilita a corrigir esta falha?
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