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No Brasil, administradores se preocupam mais em ficar ricos do que administrar

Por Marcelo Pereira

Assistindo a alguns episódios da série Gigantes do Brasil do History Channell, a ideia que inevitavelmente vem à cabeça é a de que aqueles sim, eram empreendedores. Eles foram os que lutaram para que suas empresas pudessem crescer e oferecer serviços e produtos de qualidade. 

Mas este tempo passou. Embora a palavra "empreendedor" seja mais utilizada agora que na época, ela ganha hoje um sentido de hipocrisia, como se compensasse com um rótulo aquilo que não é feito na prática. 

Há empreendedorismo hoje? Sim, há, mas entre as pequenas e médias empresas. Mas elas nunca crescem o bastante. As grandes, poderosas, estabilizadas e sob um sistema de heranças (famílias) e sucessões (sócios), já não batalham mais. Sua ocupação está agora em se manter no topo. E para se manter no topo, pratica-se o arrivismo, alia-se ao poder político e não raramente toma atitudes reprováveis como afrouxar nas relações de trabalho (escravidão?).

Na verdade, a função de empresário, executivo e administrador foi glamourizada a ponto de atrair majoritariamente arrivistas para estas carreiras. O administrador não é mais aquele que deseja administrar. Administrador passou a ser o cara que quer ficar rico. Muito rico. Ricaço! Podre de rico!

Faculdades de Administração formando arrivistas

Claro que o empresariado em geral esconde esta triste realidade. Empresários necessitam de reputação e tomam o mínimo cuidado para que a sociedade não veja o seu verdadeiro lado obscuro. Para a opinião pública, empresários tem responsabilidade social e cívica com as localidades onde estão instalados e vivem apenas para administrar as suas empresas. Eles precisam dessa imagem positiva para dominar, influenciar e lucrar. A imagem que transmitem seria linda se fosse real.

Faculdades de Administração estão infestadas de arrivistas. Já escutei coisas horríveis vindo das bocas de quem pretende trabalhar como administrador. Não vou nem citar porque aqui é um blog sério, feito para pessoas responsáveis. Mas se eu dissesse o que eu ouvi e li, quem tem o mínimo de senso de humanidade irá se escandalizar.

A função do administrador ficou estigmatizada como trampolim social. Faculdades de Administração passaram a ser vistas como fábricas de magnatas. Não é coincidência o fato de que nestas faculdades predomina o pensamento de direita, a lei do mais forte. A lei que mantém a "senzala" acorrentada a "casa grande". Sim, é revoltante, mas é a realidade triste do mundo da Administração.

Noto uma clara queda de qualidade em produtos e serviços, até mesmo em empresas consagradas. Os líderes de hoje não tem mais a responsabilidade dos líderes de outrora. Muitos, salvo admiráveis exceções, usam a carreira de administrador para acumular bens e chegar ao poder econômico, para não dizer político. Grandes empresários brasileiros mandam na política. O que aconteceu na política do Brasil neste ano é uma ótima comprovação disto.

Por isso, ao assistir a série de documentários do History sobre os antigos empreendedores brasileiros, é impossível não suspirar nostalgicamente. Ficou no passado a vocação de administrar? Será que nossas honrosas exceções atuais terão condições de crescer e mostrar aos grandes que administrar é muito melhor do que ter poder e acumular bens? O verdadeiro empreendedorismo, com responsabilidades administrativa e social, é possível no mundo atual?

É muito bom lembrar que o verdadeiro empreendedor não é arrivista e nunca se mete com o poder político. Deixa a política para os políticos. Pois administrar uma empresa é algo complexo e de alta responsabilidade. Se preocupar com a mesquinhez de usar a carreira para subir na vida mais do que deveria é além de desviar o foco, um desprezo pela sociedade que necessita de serviços e produtos cada vez melhores, duráveis e seguros e de lideranças mais altruístas. 

Novos tempos pedem empreendedores mais responsáveis. O curioso que é justamente no passado mais remoto que existiam os empreendedores que precisamos para os dias de hoje.

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