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A Mão Invisível do Deus-Mercado: quando o Capitalismo se converte em religião

Por Marcelo Pereira

Nunca gostei da forma como as leis do mercado sempre foram tratadas: como se fossem justas, corretas e incapazes de errar. Mesmo sabendo que o mercado é controlado por seres mais que falíveis, geralmente gananciosos e capazes de tudo para alcançar imensuráveis lucros, não raramente as custas do sofrimento alheio, acho impossível atribuir perfeição ao mercado.

Na verdade, este papo de que o mercado está sempre certo e nós é que nos devemos nos adaptar a ele acaba transformando o Capitalismo em uma religião. Compreensível, mas não aceitável, pois para quem controla o Capitalismo (e se dá bem com ele) é interessante que o mercado pareça ser sempre correto, para que possa impor suas atrocidades a outrem.

Capitalistas tentam se aproveitar da ignorância da maioria da população (principalmente aquela que é hipnotizada pela grande mídia controlada pelo "Deus-Mercado") para tentar impor o Capitalismo, sobretudo na sua forma errática, o Neoliberalismo, arruinando todo o sistema econômico, mas fazendo-o funcionar a favor de grandes magnatas.

É um erro apostar neste modelo que beneficia apenas os grandes capitalistas. Até pequenos e médios empresários e alguns grandes, perdem ao se submeter, sem questionar, ao "Deus-Mercado". A "Mão invisível" citada por Adam Smith tem forte analogia ao Deus das religiões que me faz pensar que é correto aformar que a religiosidade age a favor do Capitalismo.

As religiões criaram Deus - repararam que eu sou ateu - para que a humanidade se acostumasse a obedecer lideranças invisíveis. Sinceramente, nunca é bom obedecer líderes que nunca aparecem. Lideranças invisíveis tem maior capacidade de cometer abusos impunemente que lideranças que aparecem. 

Tanto o Deus das religiões quanto o "Deus-Mercado" são favorecidos pela invisibilidade que os faz abusarem de todas as formas de almas ingênuas que obedecem de forma cega e apaixonada essas liderança. Multidões aceitam esta submissão em troca de promessas de uma prosperidade futura que nunca chega. mais de 2000 anos de religião e 220 de Capitalismo e tudo continua na mesma.

Por isso que tanto o sistema Capitalista quanto as religiões legitimam o sofrimento e defendem, cada uma de sua maneira, a tese do "no pain, no gain", presente tanto na falácia da Meritocracia quanto na Teologia do Sofrimento. E as lideranças sádicas, escondidas em seus castelos gozam com os gemidos de dor alheios.

Lideranças invisíveis são excelentes para meter medo na população. E medo fortalece a submissão. Com medo, todos se dispõem a fazer o que lideranças desejam, pois acreditam que se recusarem, poderão sofrer danos piores do que já receberão no caso de obediência cumprida.

Mas a "Mão Invisível do Deus-Mercado" já começa a falhar. A crise de 2008 mostrou o fracasso do Capitalismo. O mundo exige um novo sistema econômico, mais justo e mais eficiente. Mas gananciosos magnatas que se dão bem com o Capitalismo fazem de tudo para salvar o carcomido sistema. No desespero, mentem, matam e destroem governos, instaurando ditaduras que impõem submissão absoluta ao "sempre correto" "Deus-Mercado".

Muitos perdem em cultuar lideranças invisíveis. Por isso que religiões são muito úteis para o Capitalismo mundial. Quem sabe, o "Deus-Mercado" não é o próprio Deus das religiões a querer brincar com o destino da humanidade?...

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