Por Marcelo Pereira
Empreendedor é a palavra da moda. Ninguém sabe o que é mas sua carga semântica transmite algo agradável. Passa uma ideia de "heroísmo": seria uma espécie de "herói da Administração" Para muitos é sinônimo de "empresário".
Mas sinto dizer: isso é uma farsa. São pouquíssimos os gestores que podem ser chamados de empreendedores. E há não-empresários, gente que não possui meios de produção que merecem ser chamados de empreendedores. Tivemos um presidente com características de empreendedor (pasmem, é o Lula) e teríamos outro, Fernando Haddad. mas o que é ser empreendedor?
Ser empreendedor não é ser rico nem ter propriedades. Muito menos significa mandar e estar em posto de comando. Um funcionário pode ser considerado empreendedor se tiver participação significativa no sucesso da empresa em que trabalha. A atividade de empreendedor é a de um sábio, de um organizador. De alguém que enxerga o futuro e se mune de meios para que as metas sejam alcançadas com o máximo de eficiência, beirando a perfeição.
O empreendedor enxerga passado, presente e futuro. Do passado, resgata a experiência dos resultados daquilo que foi feito e os analisa para que acertos sejam aproveitados e erros, evitados. No presente, age incansavelmente para construir um futuro que deverá ser melhor que o presente, sempre usando a lógica e a observação de fatos, pensando nas consequências de cada atitude tomada e não tomada.
O empreendedor é aquele que sabe utilizar seus recursos para que tudo possa ser feito da melhor maneira. Mas o empreendedor deve ser humilde, reconhecendo os erros, sabendo se levantar quando cai. Reconhece a atividade de empreendedor como a de aprendizado eterno, onde novas informações vão sendo apresentadas sem parar, coo obstáculos a serem superados.
Rótulo que fascina e traz prestígio
A maior parte do empresariado brasileiro não se encaixa no perfil do empreendedor, embora adore o rótulo por transmitir algo positivo. A fama de empreendedor passa uma ideia, mesmo falsa, de uma espécie de tutor da humanidade, uma liderança gerar benefícios coletivos a todos, o que na prática se mostrou uma farsa.
A ganância e a ignorância tradicionais do empresariado brasileiro é um grande empecilho para o reconhecimento como empreendedor. Boa parte dos empresários prefere o rentismo, que é a capacidade de gerar lucros através do mercado financeiro (bolsa de valores), do que através da produção e da geração de lucros através da venda.
O apoio desses empresários a semi-escravocrata reforma trabalhista é uma grande prova de que eles não são empreendedores. O verdadeiro empreendedor não se enxerga como uma pessoa superior aos seus liderados. O empreendedor valoriza seus liderados, por enxergarem neles não como subalternos e sim como parceiros. Enxerga-os como também empreendedores, como ele.
Não raramente há casos de liderados altamente criativos que oferecem soluções para problemas que não estavam nas mentes dos seus líderes. O que transforma a relação líder/liderados em uma relação horizontal, que apesar de uma certa hierarquia, já que o líder está numa posição burocrática superior, permite um diálogo entre iguais, onde todos trabalham juntos por um só objetivo.
A ganância e a arrogância presentes na maioria dos empresários brasileiros é algo que deve ser evitado pelo verdadeiro empreendedor. Se achar mais do que os outros, só porque tem maior facilidade de ganhar dinheiro - nem sempre através do trabalho, mas através de rentismo e não raramente, de heranças - é ruim para o empreendedorismo e costuma ser fonte de origem para graves crises econômicas que prejudicam multidões pelo mundo.
Empreendedor: use esta palavra com moderação
A palavra empreendedor deve ser usada com muito cuidado. nem sempre ela está ligada ao universo empresarial. Pode estar e pode não estar. Há empresários (muitos!) que não são empreendedores e há empreendedores que não são empresários.
O que faz um verdadeiro empreendedor é a sua inteligência, sua humildade, seu altruísmo e sua capacidade de entender o mundo, tendo a paciência de chegar aos resultados na hora certa. O empreendedor deve ser uma pessoa que entenda o outro e tire das outras pessoas a capacidade de parceria, para que todos possam juntos contribuir para melhoria do mundo.
Mas antes de tudo, esqueça a tolice de colocar empreendedor e empresário como sinônimos. Romper este estereótipo é a primeira coisa a ser feita para que a atividade administrativa possa ser executada com a melhor qualidade possível.
Ser dono de fortunas não faz de ninguém mais inteligente que os outros. Até porque a inteligência é um bem que reside em cérebros e não em cofres de bancos.
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