Ter mais do que os outros não é considerado um erro se você pensa desta forma. Você , meu caro ricaço, não é o infeliz que tirou dinheiro, direitos e oportunidades de outras pessoas. Nada disso. Você é o pobre coitado que "batalhou um pouco mais" e por isso ganhou o "direito" de ter mais do que os outros.
Mesmo que seja claro que o Capitalismo é um jogo em que os vencedores fazem as regras - outro "direito" a ser adquirido por quem vence a "competição" - chegando a manipular as leis para que os ricos sejam favorecidos de forma bem facilitada, preferimos acreditar que quem enriquece é quem batalhou bastante, oferecendo uma falsa esperança aos verdadeiros pobres coitados que lutam em troca de muito pouco.
Os mais pobres, ingenuamente, batalham na sua luta cotidiana enxergando este futuro supostamente provável, mas que a cada mês de trabalho se torna distanciado, impossível de se realizar. Mesmo assim, há uma falsa identificação com os mais ricos, tratados como pessoas bondosas e justas (mas que ostentam um estilo de vida irreal de tão pomposo), respeitados por se tratar de alguém que "chegou lá".
Este pensamento é possível porque as verdadeiras engrenagens que fazem o Capitalismo girar e favorecer um punhado de felizardos estão nos bastidores, dentro de salas sem paredes e trancadas a sete chaves. Ninguém sabe o que acontece de fato nos bastidores para o sistema ser tão injusto, até porque os meios de comunicação, porta-vozes do Capitalismo, tentam enxergar algo bom nesta injustiça.
Por isso muita gente não estranha porque certas pessoas têm mais do que as outras, ainda mais em um país miserável com inúmeros problemas nunca solucionados (por falta de interesse em solucionar, cá para nós). Os ricos são apenas os vencedores da luta cotidiana e se fizermos direitinho tudo que os patrões mandarem, também seremos tão ricos quando o mais afortunado magnata.
Essa ilusão é reforçada pelo esporte, que nos dá a aura positiva à competitividade. Não por acaso, empresas que vivem negando salários justos aos seus próprios funcionários, não medem valores na hora de investir em atletas e competições esportivas. É preciso criar uma ideia positiva para a competitividade e usar isso para inventar que o Capitalismo é justo.
Se já não bastasse terem mais do que os outros, os mais ricos se sentem na tranquilidade de verem seus interesses gananciosos serem protegidos, graças a esta propaganda positiva que os transforma em "pobres que deram certo". A meritocracia vê justiça na injustiça e tira o remorso dos gananciosos, que enxergam com justiça o fato de que seus supérfluos impedem os outros de terem o necessário.
Infelizmente, o sistema capitalista consagrou esta ideia e continuará insistindo nela por prazo indeterminado. Até que um dia as pessoas desenvolvam seu intelecto a perceber que estamos sendo enganados e que é impossível galgar altas posições somente batalhando por uns trocados no cotidiano profissional.
É, na verdade, tudo para preservar a ganância de quem já estava lá no topo, chegando lá de forma facilitada. Gente que já encontrou o caminho aberto para vencer facilmente, manipulando as regras do jogo para favorecer a sua própria vitória e a derrota dos outros "competidores".
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