
Por Marcelo Pereira
Os procuradores e juízes ligados ao golpe de 2016 não gostaram nada de ver os também golpistas deputados alterarem o projeto "10 medidas contra a corrupção", de nome equivocado pois na verdade não passa de um AI-5 moderno que pretende por na cadeia pobres inocentes que possam se envolver em situações constrangedoras, várias criadas pelas próprias leis. Corrupção se combate de outra forma, não com a eliminação de direitos e liberdades do cidadão comum.
Além de terem eliminado as tais situações constrangedoras - que supostamente serviriam como "detectoras de corruptos", mas utilizando métodos e conceitos subjetivos, com base em convicções pessoais e não em fatos, os deputados incluíram uma emenda que deixou estes procuradores de cabelos em pé e a parcela mais conservadora da sociedade babando de ódio.
A emenda visava limitar os abusos cometidos por procuradores e por integrantes do Poder Judiciário. É uma emenda justa, mas foi interpretada como "limitação ao trabalho de promotores e juízes". Limitação? Quer dizer que juízes são melhores que o resto da humanidade, se sentindo no "direito" de cometer abusos e injustiças. Que justiça é essa que deseja legitimar abusos de poder?
Isso lembra muito o que acontece com o mercado de trabalho. Como sabemos, os maiores juízes e empresários são as classes mais privilegiadas de nosso país. Além de receberem as maiores rendas, estão no topo da hierarquia, sem alguém acima deles que pudesse limitar seus excessos.
Para a opinião pública, é consagrado o mito de que juízes e empresários são perfeitos, justos e incapazes de cometer qualquer tipo de erro, sendo na prática divindades materializadas. Nunca me surpreendeu a hiper-valorização das religiões nas sociedades capitalistas. É justamente para dar a noção de divindade para que as autoridades da Terra possam exercer sua influência com maior poder.
O Deus-Mercado e a sua invisível onipotência
Ontem eu estive assistindo uma pequena palestra sobre como se comportar numa entrevista de emprego. O jeito que a apresentadora, uma profissional de Recursos Humanos, falava, deixou subentendida a impressão que as empresas contratantes teriam o "direito" de cometer preconceitos e julgamentos de valor. Seria obrigação dos candidatos a vaga de um emprego se adaptar a estes preconceitos. Não houve qualquer tipo de menção, por menor que seja sobre o fato de que há muitas injustiças praticadas frequentemente em entrevistas de emprego.
Há a chamada "cultura da empresa". É o conjunto de convicções utilizadas no cotidiano de uma organização e que deve ser respeitado. Acontece que - surpresa! - empresários, assim como os juízes e procuradores mencionados no começo deste texto, são seres humanos e como tais, cometem erros, tem interesses particulares e cometem injustiças.
Há muitas organizações, e tive contato com exemplos reais que, por conveniência, serão omitidos aqui, cuja "cultura" é bastante preconceituosa, relaxada e não raramente incompetente. Organizações inclusive semi-escravocratas, que enxergam no funcionário não um ser humano, mas um equipamento a mais no patrimônio de uma empresa.
Como frear um empresário que age desta forma, se o "poderoso" Deus-Mercado merece ser intocado e respeitado com o maior rigor? Um dono de uma importante rede (mencionamos aqui), deu sinais de que defende a volta da escravidão, sem usar o nome para não pegar mal. Outra rede, muitíssimo famosa e prestigiada, especializada em fast food, oferece péssimas condições de trabalho para seus funcionários e possui instalações que já começam a ficar deterioradas, escuras, sujas e feias.
Temos que ter freios para isso. Não podemos deixar que a excludente doutrina neoliberal influencie o mercado de trabalho, como te acontecido cada vez mais. Empresários não são deuses, assim como juízes e procuradores também não são. Nada pode legitimar o abuso de poder, seja de quem for.
É preciso impor limites aos donos do poder econômico assim como o dos representantes do Poder Judiciário e das forças complementares, para que as outras pessoas não sejam prejudicadas pela truculenta influência de quem está no topo das relações de poder.
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