Pular para o conteúdo principal

Para população, grande empresariado age como o quitandeiro da esquina que ela conhece

Por Marcelo Pereira

A população brasileira tem uma confiança cega no grande empresariado, o que favoreceu o surgimento de uma onda neoconservadora que legitima as desigualdades sociais. A maioria da população, mesmo os mais pobres, estes por boa fé, passaram a ter sintonia total com a ideologia das grandes empresas. Porque isso acontece?

Na verdade, as pessoas não estão muito bem informadas sobre o pepel dos grandes empresários na política brasileira.O caso JBS revelou um surpreendente envolvimento do grande empresariado com esquemas corrupção. Mas o senso comum continua a tratar como caso isolado, como se não fosse regra empresários de grande porte se envolverem em corrupção. A imagem consagrada dos grandes empresários é a de coitados que dependem da misericórdia dos governos para poderem movimentar a economia.

A população menos informada, só conhece o que está ao seu alcance. Como ela não sabe do que acontece nos bastidores das grandes empresas, imagina ser similar ao que acontece nas quitandas e lojas da esquina. Veem os donos de mercearias, honestos e com poucos recursos, sofrendo para administrar suas pequenas empresas e começam a achar que nas grandes acontece o mesmo, só que em proporções maiores. Como não veem pequenos e médios gestores envolvidos em escândalos, acreditam que os grandes também não se envolvam.

Esta crença acaba por criar uma espécie de "síndrome de Estocolmo" na população, perante os grandes empresários. O dono de uma gigantesca corporação parece igual ao quitandeiro da esquina, só que em dimensões maiores, o que aumenta ainda mais o sentimento de piedade que a população tem dos grandes empresários.

Por isso que há muita gente pobre defendendo os grandes empresários como se estes fossem uns coitados que sofrem imensamente para manter as suas empresas. Isso não é verdade porque os maiores empresários tem condições extremamente favoráveis, e algumas delas nada lícitas, para manter as suas gestões. 

Ou seja, é ilusão achar que os grandes empresários passam pelas mesma dificuldades dos pequenos. As imensas fortunas em seus patrimônios e o poder de interferir na política com mãos de ferro e moedas de ouro elimina gigantesca parte da dificuldade que é rotineira para  pequeno gestor, que ingenuamente se considera igual ao grande, por também acreditar na crença da dificuldade multiplicada.

Grandes gestores ainda contam com o apoio de governos e de especuladores, fazendo com que altas quantias de dinheiro continuem a circular por suas mãos, impedindo que se tornem, por exemplo, mendigos quando houver algum tipo de falência de suas empresas.

Devemos sempre nos manter informados e entender que os grandes e gigantescos gestores se diferem bastante dos micros, pequenos e médios gestores, inclusive pertencendo a classes sociais muito diferenciadas. É preciso para aqueles que não são grandes terem a humildade de não utilizar o rótulo de "empresários" para se colocar acima de outros trabalhadores. Os grandes empresários não estão interessados em se igualar a quem não é como eles, mesmo que compartilhe os rótulos e experiências típicas de um gestor.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Crise escancara fracasso do Neoliberalismo, forma parasitária do Capitalismo

Por Marcelo Pereira O Brasil está vivendo um triste momento histórico nos últimos dias, que certamente iniciará algum tipo de ruptura, ainda não se sabe de que lado for. Pois o caos instalado pode criar uma ruptura que favoreça a população ou uma ruptura que preserve os interesses dos capitalistas que parasitam toda a economia para que tudo aconteça a favorecer a sua faminta ganância. Economistas sérios - não confunda com banqueiros disfarçados de economistas ou com economistas pagos pela grande mídia a discutir o sexo dos anjos - garantem que o Neoliberalismo está com os dias contados. O contexto do século XXI não comporta uma ideologia baseada na ganância e no lucro imediato. O Neoliberalismo deve ser extinto para que a economia encontre seu rumo e possa beneficiar o maior número de pessoas e não uma meia dúzia de magnatas. A crise de 2008 foi bem sintomática e serve como uma prova real de que o Neoliberalismo é um sistema não apenas obsoleto como nocivo a humanidade. É ...

Investidores não são instituições de caridade

Por Marcelo Pereira Capitalistas e simpatizantes sempre tiveram uma confiança cega naqueles que eles chamam de "investidores". Para quem não entende Economia e desconhece os bastidores das relações de poder, fica a impressão de que "investidores" são uma espécie de salvadores de plantão a socorrer a sociedade nos momentos de crise ou quando há necessidade de injeção financeira. É uma versão romantizada, quase infantil de um sistema que nada tem de romântico. O Capitalismo é naturalmente cruel, egoísta, ganancioso e arrivista. Capitalistas não medem esforços para passar por cima dos outros feito rolo compressor e se for necessário prejudicar multidões para salvar os lucros dos mais ricos, se prejudica. Como está acontecendo agora no Brasil. Se aproveitando do pouco ou nenhum conhecimento econômico de grande parte da população (exemplo de que o emburrecimento da população é necessário para a manutenção dos poderosos), Michel Temer anunciou medidas drástic...

A demissão de Trajano e o que isso significa

Por Marcelo Pereira Eu não sou muito ligado em ver esporte (praticar é sempre muito melhor do que ver). Gosto apenas de ver alguns, mas sem fanatismo. Não interrompo atividades importantes para assistir a partidas esportivas.  Não colocar esporte acima de outras coisas é uma heresia em uma sociedade como a brasileira que diviniza o esporte e não consegue enxergar o lado ruim por trás dela (que infelizmente é real). Mas como entretenimento, o esporte consegue cumprir a sua função e para quem curte é um ótimo meio de passar as horas que não se tem algo importante a fazer. Às vezes assistia ao ESPN mais pela qualidade de seus programas do que pelo esporte em si. Boa parte da qualidade do canal é de responsabilidade de José Trajano, um dos melhores jornalistas esportivos que existiram no país (esqueçam o Galvão: ele não é jornalista, é um torcedor fantasiado; um cheerleader ! Só a Globo gosta dele).  Trajano foi fundador da filial brasileira do ESPN e executivo do...